6 de agosto de 2010

Crack em foco


Dr. Daniel Cruz Cordeiro é médico psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela Universidade de Londres, professor na UNIAD – Unifesp e Vice-Coordenador da Enfermaria de Dependência Química da UNIAD – Unifesp em São Bernardo do Campo.
Após um ano de atividades, a Enfermaria de Dependência Química da UNIAD – Unifesp em São Bernardo do Campo divulga balanço que indica que sete em cada dez pacientes internados no local pediram ajuda para se livrar do crack. Dos 233 pacientes que passaram pela clínica em um ano, 73% usavam crack; 50% consumiam a droga e álcool ao mesmo tempo. Os homens foram a maioria dos que procuraram ajuda: 82%, com média de idade de 35 anos.
Como as pessoas se viciam em crack?
Como qualquer outra droga capaz de causar dependência, o uso continuado do crack provoca alterações no funcionamento das células do cérebro, os neurônios. Estas alterações causam um mau funcionamento do órgão na ausência da droga, ou seja, os estímulos normais para que a pessoa sinta prazer se tornam insuficientes e precisarão da droga para funcionar como antes. Com o uso do crack, esta alteração do funcionamento cerebral ocorrerá de uma forma mais rápida.
Quais os efeitos colaterais do uso do crack?
DCC - Dentre os efeitos mais comuns estão : inquietação, irritabilidade , agressividade, sensação de desconfiança. Fora isto ainda ocorrem sintomas físicos como diminuição do apetite, taquicardia, aumento do tamanho das pupilas, aumento de pressão arterial, da temperatura entre outros. Quanto maior o tempo de uso maior a chance de piores efeitos colaterais como desmaios, convulsões, ataques cardíacos e paradas respiratórias.
RAE - Quais os problemas mentais que podem surgir em virtude do uso do crack?
DCC - O consumo do crack provoca alterações no controle do pensamento e da memória. A pessoa se torna cada vez mais impulsiva. Pode evoluir com sintomas psicóticos, como delírios (medos irracionais, paranóias) e alucinações (ouvir vozes, ver coisas que ninguém mais vê, ter sensações como insetos rastejando pelo corpo). Com a evolução da dependência aumenta a chance de quadros depressivos e quadros psicóticos irreversíveis.
RAE - Quais são as formas de tratamento mais indicadas? Como funcionam?
DCC - Como o crack tem este enorme potencial para síndrome de abstinência, o ideal é iniciar o tratamento do dependente com uma desintoxicação. Muitas vezes, a intensa fissura pode inviabilizar o tratamento ambulatorial. Já ouvi vários pacientes contarem que a vontade de usar é tão grande que, mesmo fazendo tratamento e tomando remédios, acabam saindo para usar. Pessoas com ambientes mais protegidos, famílias mais continentes podem tentar a desintoxicação em casa, juntamente com medicamentos que possam atenuar a falta do crack. Outras pessoas só conseguirão ficar sem usar se tiverem, minimamente, em ambiente protegido, longe de outros usuários e de locais que facilitem o acesso. Porém, mais difícil que parar é manter a abstinência, por isso o paciente, além de tratamento médico e psicológico, necessitará de mudanças, entre elas do círculo de amizades e deverá evitar locais, pessoas e situações que lhe coloquem em situações de risco.

Fonte: Revista Anônimos Ed. 11
http://www.amorexigente.org.br

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