8 de maio de 2011

Mãe Preta....Ser Mãe", de Henrique M. Coelho Neto

Mãe Preta é uma canção que surgiu no Brasil na década de 30 do século passado, sobre o drama pungente de uma ama negra no tempo da escravatura. Com música composta por "Caco Velho" (Matheus Nunes) e letra de "Piratini" (António Amabile), Mãe Preta chegou a Portugal nos primeiros anos da década de 50 pela voz da fadista Maria da Conceição. Esta versão portuguesa foi um êxito colossal, que as rádios tocavam sem cessar e que as pessoas cantarolavam e assobiavam por todo o lado. Até que, de repente, a Mãe Preta deixou de se ouvir nas rádios. E as pessoas interrogavam-se sobre este silêncio subitamente instalado:


-- O que é que aconteceu à Mãe Preta, que nunca mais ouvi no rádio?

-- Não sabe? O Salazar proibiu.

-- Oh, que pena! Era tão bonita!

Entretanto, novos êxitos musicais foram surgindo, nas vozes de Amália Rodrigues, Maria de Lourdes Resende, Francisco José e outros. Mesmo assim, a Mãe Preta continuava presente na memória dos portugueses, com as suas palavras que a ditadura pretendeu calar:

Pele encarquilhada, carapinha branca,
gandola de renda caindo na anca,
embalando o berço do filho do sinhô,
que há pouco tempo a sinhá ganhou.

Era assim que Mãe Preta fazia.
Tratava todo o branco com muita alegria.
Enquanto na sanzala Pai João apanhava,
Mãe Preta mais uma lágrima enxugava.

Mãe Preta, Mãe Preta!

Enquanto a chibata batia no seu amor,
Mãe Preta embalava o filho branco do sinhô. 
Fonte: http://almaviva.blogspot.com


  Ser Mãe.
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio, que suga o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!


Henrique M. Coelho Neto, romancista do final do século XIX ao início do XX. De sua obra imensa, hoje tão esquecida, este soneto, murmurado filho a filho, eterniza o escritor.


Fonte: http://teoriaecriticaliteraria.blogspot.com

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