25 de novembro de 2010

Bush mentiu 259 vezes sobre o Iraque, o seu livro tem algum fundamento agora, ..Em 1ª entrevista à TV desde que deixou a Casa Branca, Bush defende inv


WASHINGTON - Um estudo de duas organizações de jornalismo sem fins lucrativos constatou que o presidente George W. Bush e altos integrantes de seu governo emitiram centenas de declarações falsas sobre a ameaça que o Iraque representava para a segurança dos Estados Unidos na preparação para a guerra após os atentados terroristas de 2001.

O estudo concluiu que as declarações "faziam parte de uma campanha orquestrada para efetivamente galvanizar a opinião pública e, no processo, levar a nação à guerra sob definitivamente falsas premissas". O estudo foi divulgado na noite de terça-feira no site do Center for Public Integrity, que trabalhou conjuntamente com o Fund for Independence in Journalism.

O porta-voz da Casa Branca Scott Stanzel não quis entrar no mérito do estudo, apenas reiterou a posição do governo Bush de que a comunidade internacional via o presidente iraquiano Saddam Hussein como uma ameaça. "As ações tomadas em 2003 (a invasão do Iraque) foram baseadas no julgamento coletivo de agências de inteligência de todo o mundo", destacou Stanzel.

O estudo contou 935 declarações falsas no período de dois anos. Elas foram encontradas em discursos, entrevistas e em outras situações. Bush e seus colaboradores atestaram inequivocamente em pelo menos 532 ocasiões que o Iraque tinha armas de destruição em massa ou estava tentando produzi-las ou obtê-las e que tinha ligações com a rede terrorista Al-Qaeda.

"Agora ninguém mais contesta que o Iraque não tinha armas de destruição em massa nem tinha laços significativos com a Al-Qaeda", escreveram Charles Lewis e Mark Reading-Smith num resumo do estudo. "A verdade é que a administração Bush levou a nação a uma guerra com base em informação errônea que ela propagou metodicamente e que culminou com a ação militar contra o Iraque em 19 de março de 2003".

Foram citados no estudo além de Bush o vice-presidente Dick Cheney, a então assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, o secretário de Estado Collin Powell, o subsecretário de Defesa Paul Wolfowitz e os assessores de imprensa da Casa Branca Ari Fleischer e Scott McClellan.

Bush foi quem deu mais declarações falsas: 259 - 231 sobre armas de destruição em massa no Iraque e 28 sobre ligações de Saddam Hussein com a Al-Qaeda. Em segundo ficou Powell - 224 sobre as armas e 10 sobre a Al-Qaeda. "O efeito cumulativo dessas declarações falsas - amplificadas por milhares de matérias na mídia e transmissões - foi maciço, com a cobertura da mídia criando um ruído quase impenetrável por vários meses críticos antes da guerra", concluiu o estudo.

"Alguns jornalistas - na verdade, até alguns meios de comunicação como um todo - reconheceram que sua cobertura durante esses meses que precederam a guerra foi demasiadamente respeitosa e acrítica. Muito da cobertura deles ofereceu uma validação adicional, 'independente', das falsas declarações da administração Bush sobre o Iraque", concluiu.

Fonte: Tribuna da Imprensa, 24/01/2008.


O ex-presidente americano George W. Bush andava meio sumido desde que deixou a Casa Branca (2001-2009) e foi para seu rancho no Texas, mas agora volta ao centro das atenções com revelações inéditas --ou nem tanto-- em seu livro de memórias "Decision Points" [Momentos Decisivos, em tradução livre], que chega às livrarias dos EUA nesta terça-feira.

Em sua primeira entrevista à TV desde que passou o bastão a Barack Obama, em janeiro de 2009, Bush conversou com Matt Lauer, da rede americana NBC. O programa foi exibido na noite desta segunda.

Bush justifica sua "guerra ao terrorismo" e, de quebra, a invasão do Iraque. Ele conta que era "uma voz dissidente" dentro de seu governo, e "queria dar uma chance à diplomacia".

"Finalmente, decidi ir à guerra devido à resistência de Saddam Hussein e às informações de inteligência".

"Você tinha alguma sombra de dúvida sobre as informações de inteligência [sobre armas de destruição em massa no Iraque]?", pergunta Lauer. "Não, eu não tinha", diz Bush.

Bush diz que ninguém mais do que ele ficou com raiva e se sentiu mal ao saber que não foram descobertas armas de destruição em massa no Iraque --argumento usado para justificar a invasão do país. Diz que até hoje ainda se sente mal.

"Já pensou em pedir desculpas ao povo por essa decisão que tomou?", pergunta Lauer.

"Pedir desculpas seria dizer que foi a decisão errada, mas eu não acho que foi", responde Bush. "O mundo é muito melhor sem Saddam Hussein", diz ele.

O ex-presidente admite ter permitido o uso da tortura do "submarino" contra o mentor dos ataques de 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed.

"Você tomaria a mesma decisão hoje?", pergunta Matt Lauer. "Sim", responde Bush. Lauer pergunta porque Bush considera que o emprego da "técnica" era legal. "Porque o advogado disse que era legal", responde Bush. "Usar aquelas técnicas salvaria vidas, e meu trabalho era proteger os americanos."

"Foi a coisa certa a fazer até onde eu entendo".

No último bloco do programa, Lauer pergunta sobre a crise econômica mundial. "Estou parafraseando: 'É melhor você fazer algo grande, porque se não, vamos entrar em uma nova depressão', me disseram. Quando você é o presidente, isso chama sua atenção", conta Bush. "Eu disse que Wall Street ficou bêbado, e nós ficamos com a ressaca."

FESTA DE FAMÍLIA

Sentados em uma igreja, Bush conta a Lauer momentos de sua relação com a mãe, Barbara. Ele lembra do dia em que a mãe sofreu um aborto e ele levou ela e o feto ao hospital. "Esse era um pequeno irmão ou irmã", conta Bush, deixando transparecer sua visão religiosa sobre a vida --e sobre o aborto.

Sem resistência, Bush admite que bebia muito e que dizia grandes bobagens quando estava embriagado. Perguntado sobre as piores situações, lembra de uma: estava sentado à mesa no dia das mães, com a família, e pergunta à mãe "Como é a vida sexual após os 50?".

Bush afirma que sua fé o ajudou a deixar a bebida logo após seu aniversário de 40 anos, e que essa foi a principal decisão de sua vida. Nem o 11/9, nem o Katrina, nem as guerras, nenhum momento difícil de seu governo o levou a tomar um gole sequer, afirma.

LANÇAMENTO

Na terça, Bush aparece no popular programa de Oprah Winfrey, e depois concede outras entrevistas aos apresentadores ultra-conservadores Rush Limbaugh, Sean Hannity e ainda Bill O'Reilly.

O lançamento acontece exatamente uma semana após a vitória do partido de Bush nas eleições legislativas de meio de mandato. Os republicanos tomaram o controle da Câmara dos Representantes, e diminuíram a vantagem dos democratas no Senado, em um claro sinal de desaprovação ao governo de Barack Obama e à forma como liderou o país durante a crise econômica.

O livro tem 481 páginas e começa com uma tiragem de 1,5 milhão de exemplares. O presidente número 43 dos EUA revê seu mandato, marcado pelos ataques de 11 de setembro de 2001 e pelas invasões ao Afeganistão e ao Iraque.

Segundo o jornal "The New York Times", Bush admitiu ter sentido "enjoo" ao ser informado que nenhuma arma de destruição em massa tinha sido encontrada no Iraque, logo após a invasão do país, no começo de 2003. Alegando que essas armas constituíam "um perigo para o mundo", Bush justificou a invasão do país então comandado pelo ditador Saddam Hussein.

Veja algumas revelações feitas por Bush na entrevista e no livro.

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TORTURA DO "SUBMARINO"

Bush conta que deu pessoalmente autorização para que os agentes da CIA (agência de inteligência americana) utilizassem a técnica de tortura conhecida como "submarino" contra o mentor dos ataques de 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed

"Com toda certeza", disse Bush quando indagado pela CIA se eles podiam empregar a controversa técnica que simula o afogamento do interrogado.

Bush afirmou que acreditava que Mohammed possuía informações vitais sobre planos terroristas contra os EUA e que tomaria de novo a decisão de autorizar a tortura se isso significasse salvar a vida de americanos.

A CIA empregou a técnica com Mohammed e pelo menos outros dois presos em 2003, incluindo Abu Zubaydah, o primeiro membro de alto escalão da Al Qaeda preso pelas autoridades americanas.

Depois de assumir o governo, o sucessor de Bush, presidente Barack Obama, e seu secretário da Justiça, Eric Holder, descreveram o "submarino" como um ato de tortura.

DICK CHENEY?

Bush reconhece que pensou em se livrar do então vice-presidente Dick Cheney, que lhe ofereceu retirar-se da chapa republicana antes da reeleição de 2004.

"Pensei efetivamente em aceitar a oferta", declarou Bush. Cheney tornou-se "um abcesso e uma fixação para a mídia e a esquerda. Era considerado um ser sem coração que agia na sombra", revela Bush.

Mas o presidente terminou por considerar que precisava de Dick Cheney para ajudá-lo.

FURACÃO KATRINA

Bush lembra que passou o pior momento de sua Presidência durante o incidente com o furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005 e que lhe valeu a acusação de incompetência. O rapper Kanye West acusou então o presidente na televisão de não se preocupar com os negros.

"E eu não apreciei isso na época. E não aprecio isso agora. Uma coisa é dizer: 'Não aprecio a forma como ele tem lidado com seus assuntos'. Outra coisa é dizer: 'Esse homem é um racista'."

"E foi um dos momentos mais repugnantes da minha presidência."

O furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005, foi responsável por uma enxurrada de críticas a Bush após a publicação de uma imagem que o mostra a bordo do Air Force One contemplando a região atingida.

Bush diz que seu erro foi não ter conseguido expressar inicialmente a preocupação que sentia pelas vítimas. Afirma também que não deveria ter apenas sobrevoado Nova Orleans no avião presidencial quando a cidade estava submersa.

ATAQUE A SÍRIA

Bush diz ter considerado ordenar um ataque militar dos EUA contra uma suposta instalação nuclear síria a pedido de Israel em 2007.

Pouco depois de ter recebido um relatório da inteligência sobre uma "instalação suspeita e bem escondida no deserto oriental da Síria", falou por telefone com o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert. "George, eu lhe peço que bombardeie o complexo", disse Olmert a Bush, de acordo com o livro.

Bush afirma ter debatido sobre as opções com sua equipe de segurança nacional. Uma missão de bombardeio foi considerada, mas "bombardear um país soberano sem advertência ou justificação anunciada poderia criar um grave revés", escreve ele.

Por fim, optou por não tomar tal atitude. Israel acabou destruindo a instalação, que a Síria negava ter como objetivo o desenvolvimento de tecnologia para fabricar armas nucleares.

CACHORRO DO PUTIN

Bush disse que apresentou seu terrier escocês Barney ao então presidente russo Vladimir Putin, em uma visita à residência presidencial em Camp David.

Putin retribuiu a gentileza quando Bush visitou a Rússia, e o líder russo lhe mostrava sua casa de férias.

"Um grande labrador preto veio correndo pelo gramando. Com um brilho nos olhos, Vladimir disse: 'Maior, mais forte, mais rápido que Barney'", escreveu Bush.

Bush disse que ele contou a história ao premiê canadense, Stephen Harper, que respondeu: "Você tem sorte que ele só lhe mostrou o cachorro".

fonte: Folha

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