10 de junho de 2011

SOLIDÃO(PSICÓLOGO DESENVOLVE ESTUDOS ATUAIS SOBRE O PROBLEMA BASEADOS NAS TEORIAS DE FREUD E ADLER)

"Qualquer talento ou distinção pessoal deve servir ao incremento de uma sensibilidade a favor de determinada pessoa,do contrário, apenas restará uma vaidade nefasta que excluirá o sujeito da condição humana, rebaixando-o novamente para o reino animal da competição".- CHARLES DARWIN.

"Todos constroem um desejo veemente de ter provedores que satisfaçam todas as carências impostas pela vida. Como a criança lida com a imagem e o real perante a figura provedora, é a medida mais exata de sua futura saúde ou doença mental. Muito mais do que desejar afetivamente um dos genitores, o objetivo central da criança desamparada é possuir um provedor eterno, pois logo cedo a mesma percebe a extrema dificuldade pela sobrevivência em nosso mundo".- ALFRED ADLER-PSICÓLOGO.

"Se na era vitoriana estudada por FREUD, a mulher desenvolveu a histeria por não poder gozar a sua sexualidade devido ao moralismo opressivo da época, que tipo de nova enfermidade desenvolverá uma mulher independente, que pode se relacionar sexualmente com total liberdade, mas totalmente temerosa em compartilhar sua intimidade e com pânico profundo ao amor e entrega absoluta?".-ANTONIO CARLOS PSICÓLOGO.(ANTONIO CARLOS-PSICÓLOGO)".




A sensação de derrota íntima é o primeiro indício de uma profunda solidão que talvez seja companheira pelo resto da vida de uma pessoa. Neste ponto quero ressaltar o primeiro conceito essencial deste texto, que tem o objetivo de advertência pessoal e social: Qualquer experiência pretérita de fracasso Afetivo ou separação deveria servir para uma ampliação de consciência ou crescimento pessoal, nos tornando mais sensíveis para aquilo de que realmente necessitamos, sendo que jamais poderíamos nos permitir que ditas experiências nos causassem amargura ou rancor, que irão se travestir de exigências impossíveis de serem concretizadas num futuro relacionamento.

Talvez a questão levantada seja a maior doença afetiva de nossos tempos. Se em algum momento de nossa vida nos entregamos a alguém que efetivamente não nos correspondeu, este é um problema puramente de sensibilidade, sendo que a mesma com toda certeza estava diminuída por não termos percebido uma escolha errada, ou que no fundo a pessoa em questão era uma projeção de todas as nossas negatividades não assumidas. O fato central que temos de perceber é o quanto realmente de investimento profundo depositamos na relação, ou prevaleceu nossa cobiça diária para ganhar mais dinheiro?Qual das partes sempre teve a soberania?

A prática da psicoterapia durante um pouco mais de um século, provou que o essencial para a cura de determinada neurose é principalmente a relação que se estabelece entre terapeuta e paciente. A mesma jamais pode ser algo puramente técnico, mas, sobretudo um dinamismo onde a troca deve sempre estar presente. O pagamento de determinada consulta é uma espécie de depuração para um sujeito que esteve em déficit no plano emocional em algum momento de sua vida.

Independentemente da questão econômica, o ponto central deve ser a troca, pois do contrário sobrará uma concepção mística e donativa de uma relação, onde a conseqüência é o mais puro sofrimento. Jamais uma verdadeira relação amorosa pode ser unilateral, pois do contrário há uma escravização do sentimento. Sabemos da extrema dificuldade da entrega ou doação numa relação, pois quase todos têm o receio de se sentirem submissos ou inferiores perante o outro. Obviamente é mais cômodo ter alguém aos nossos pés, provando nosso poder pessoal na esfera amorosa,sendo este desejo de possuir a alma do outro, uma das piores manipulações emocionais que o ser humano tem desenvolvido em nossa era.

O ser masculino ainda insiste em renegar toda e qualquer sensibilidade, embora se fale o contrário. Que se manifestem os psicólogos, onde 90% de sua clientela é composta por mulheres. Esta constatação é apenas uma das provas de que o fracasso afetivo sempre é empurrado para o âmbito da responsabilidade feminina, causando uma depreciação global em sua autoestima.

O homem procura por força cultural e maior treino sexual desde a adolescência, a obtenção do prazer imediato, se recusando na maioria das vezes a participar da intimidade conjugal ou familiar. O que devemos perguntar é o que realmente seria o prazer? Seria a satisfação de determinada fantasia sexual, de poder econômico, ou ambição em todos os níveis? Este último tópico se aplica na questão afetiva, pois é só pensarmos na infidelidade conjugal ou a necessidade histórica da freqüência de prostíbulos por parte do homem.

Se refletirmos profundamente, logo descobriremos que o prazer máximo reside naquele tipo de pessoa que jamais sabotaria o mesmo,pelo contrário, cultiva um aprofundamento não apenas daquilo que possui imenso valor, desenvolvendo permanentemente uma energia que se transforma em potência, sendo percebida pelo outro como carisma. Aliás, talvez esta seja uma das mais escassas qualidades em nossos tempos, pois é só observarmos como a mídia faz questão de compensar sua falta, através da exploração da vida íntima de artistas pré-fabricados, com o intuito de projetarmos nos mesmos um sucesso que jamais obteremos.

O fato é que o ser masculino há muito se encontra desnorteado no âmbito do prazer, embora o busque ardentemente. FREUD sempre deu destaque a importância fálica ou do pênis na sociedade contemporânea, em sua teoria sobre os conflitos inconscientes, pois o órgão sexual masculino representava poder ou obtenção do prazer, dada a questão da soberania patriarcal. Todo objeto valorizado também criava o pânico da perda. Assim sendo, segundo a teoria FREUDIANA, a angústia da castração era uma ameaça constante na constelação mental do menino, principalmente quando observava a vagina na menina; o que para o primeiro seria uma castração punitiva por a mesma ter desejado um dos genitores; o famoso complexo de Édipo. Principalmente através dos sonhos de seus pacientes FREUD elaborou tal dinamismo psíquico.

Porém, outro psicólogo - ALFRED ADLER, logo notou que tal construção mental de natureza sexual era apenas uma metáfora para esconder a verdade oculta por trás do medo, que era a recusa de se doar profundamente. A angústia da castração no menino, nada mais era do que um treino precoce para que no futuro seu pênis ou lado emocional servissem à apenas ele próprio, jamais compartilhando com outro ser.

Não é difícil aferir tal informação, pois é só observarmos a maioria dos relacionamentos, para descobrirmos que embora as pessoas tenham recursos disponíveis em várias áreas da personalidade, vivem como completos "mendigos" na esfera emocional.

Fica um tanto simplório a elaboração de uma teoria inconsciente sexualizada, se esquecendo da dinâmica social. As brincadeiras infantis acerca da sexualidade, tão bem observadas por FREUD, encerram não apenas a questão de ter um pênis, mas principalmente como disse acima, é um suposto treino precoce no sentido de quem irá comandar o lado afetivo. Não podemos nos deixar levar por ilusões, pois a mente humana sempre foi treinada para a dissimulação.

A questão teórica acima levantada é importante para a aferição do que realmente molda a personalidade. A psicanálise nos últimos cem anos acentuou as precoces relações emocionais entre pais e filhos como determinantes de neuroses futuras. O problema é que tais inferências representam apenas uma parte da questão central, pois não podemos afirmar que há uma soberania do lado sexual, quando a questão social é diariamente suscitada nos relacionamentos. Como alguém se situa na esfera emocional familiar, é sem dúvida vital para a futura autoestima da pessoa. Porém, não podemos fugir dos mecanismos sociais e econômicos presentes nos relacionamentos.

Todo ser humano chega ao mundo totalmente desprotegido e desamparado sob todas as formas, desde biológicas até emocionais. Assim sendo, todos constroem um desejo veemente de ter provedores que satisfaçam todas as carências impostas pela vida. Como a criança lida com a imagem e o real perante a figura provedora, é a medida mais exata de sua futura saúde ou doença mental. Muito mais do que desejar afetivamente um dos genitores, o objetivo central da criança desamparada é possuir um provedor eterno, pois logo cedo a mesma percebe a extrema dificuldade pela sobrevivência em nosso mundo.

Um dos objetivos básicos da psicoterapia é justamente levantar como a pessoa lidou de todas as formas com a presença ou ausência da figura provedora, pois o resultado de todo este processo determinará o desenrolar de sua personalidade. Saberemos então se a pessoa é autoconfiante; tímida; recatada; extrovertida ou temerosa perante os desafios; crente ou não em seu potencial ou valor próprio. O que não podemos admitir é a soberania sexual psíquica, num mundo extremamente material. As forças condicionantes do psiquismo seguem a mesma trilha do combate diário pela ambição e sobrevivência, embora o que mais alveja a alma de qualquer ser humano seja a percepção de ser realmente amado ou não dentro de seu ambiente de convivência.

Enfim, devemos tomar cuidado para não incorrer em erro ao confundirmos apego emocional exacerbado como a essência da neurose, quando a verdade última é o desejo de eterna exploração econômica dirigido às figuras provedoras. Acerca do universo feminino, fica explícita a masculinização do mesmo em nossos tempos. Não apenas por a mulher ter galgado no último século sua independência econômica, mas, sobretudo acabou incorporando todo o modelo de ambição material do homem, inclusive no tocante a descartar relações afetivas.

O perfil da mulher que encontrará indiscutivelmente um futuro destino de solidão extrema, é aquela pessoa que almeja tudo pronto de um relacionamento, seja na parte econômica;estética ou afetiva. Quem não aceitar ir construindo ao longo do tempo, uma trilha de plena intimidade na ajuda mútua e responsabilidade com o desenvolvimento de ambas as partes,herdará a fantasia absurda de um eterno modelo provedor que despotencializa a mulher;a infantilizando e reforçando a disputa de poder nos relacionamentos.

Curiosamente venho presenciando um número crescente de mulheres que se ressentem de sua independência econômica, alegando ser um imenso fardo a carregar. Tais mulheres não é que desejem um retorno ao passado, algumas talvez sim, mas observo que esta mulher estressada digamos assim, pela sua dupla jornada econômica e familiar, desenvolveu uma mágoa e rancor por todo o esforço acima citado. A conseqüência é o trancamento completo de sua capacidade afetiva e de entrega. Como disse acima, esta mulher incorporou os padrões doentios masculinos, e agora procura agir na mais completa exigência de ambição e poder em todas as esferas da vida.

Este tipo de mulher geralmente tem um histórico familiar de um pai quase que totalmente ausente. Vendo o sofrimento e constante submissão da mãe, partem para uma espécie de reação de conduta oposta, assimilando uma total rebelião e desprezo pela figura masculina. Sua única meta passa pelo reforço constante de seu narcisismo seja estético ou não, colecionando todo tipo de galanteio masculino como um troféu a ser exibido.

A infelicidade emocional da mulher citada é extremamente visível, se recusando em boa parte das vezes a constituírem uma família, canalizando toda a energia para a esfera do trabalho. Se antigamente a mulher era castrada em suas metas profissionais, apenas lhe sobrando o aspecto familiar, tenho reparado que em alguns casos está se dando o processo inverso em nossos tempos, o solapamento e repressão da esfera emocional.

Se na era vitoriana estudada por FREUD, a mulher desenvolveu a histeria por não poder gozar a sua sexualidade devido ao moralismo opressivo da época, que tipo de nova enfermidade desenvolverá uma mulher independente, que pode se relacionar sexualmente com total liberdade, mas totalmente temerosa em compartilhar sua intimidade e com pânico profundo ao amor e entrega absoluta? A resposta não é muito animadora, pois o surto de mulheres com alto prestígio social e estético acometidas de graves perturbações psicológicas têm aumentado de forma assustadora.

Todos sabem da verdadeira "guerra" silenciosa ou não, travada entre homens e mulheres nas últimas décadas. A contradição maior é que o sofrimento de um só pode ser reparado pela outra parte. O que libertaria o homem de seu medo e timidez afetiva, é a ajuda singela e penetrante do carisma afetivo que a mulher carrega em sua natureza. Poucos seres masculinos carregam este poder citado de gostar profundamente, e sabemos o quanto é vital ter alguém que realmente sente isto por nós. Nada causa mais proteção do que tal fato, sendo o resto pura compensação.

A libertação da mágoa feminina viria através do poder da praticidade do lado masculino, pois muitas vezes aquilo que a mulher cultiva como intuição, martelando sempre no mesmo ponto, nada mais é do que uma paranóia ou necessidade internalizada de sabotar um processo afetivo, devido às experiências passadas de frustração. Tenho observado que embora não seja regra, a mulher retém com muito mais intensidade a mágoa, não esquecendo em hipótese alguma do passado. Neste ponto, o pragmatismo masculino poderia ser de grande auxílio na construção de novas tentativas de troca afetiva profunda. Claro que tudo acima citado não segue um padrão linear para cada sexo, sendo que o objetivo é a reflexão profunda sobre a solidão decorrente dos conflitos emocionais de nossa época.

PARTE DOIS: A SOLIDÃO PERCEBIDA NA EXISTÊNCIA DA PESSOA

A solidão representa o resumo de todo o estilo de vida que adotamos no decorrer das diferentes etapas de nossa existência - ALFRED ADLER- PSICÓLOGO.

Embora a questão da solidão seja um dos maiores fardos do homem moderno, o fato é que o tema continua sendo tratado de uma forma empírica ou displicente, se negligenciando os vários componentes implícitos na matéria. Talvez isso ocorra devido ao fato da solidão estar diretamente relacionada ao sentimento de fracasso pessoal e social, aliada ao fator da enorme competição em todas as esferas do relacionamento humano.

Cada ser humano já descobriu por si mesmo que apesar de todas as dificuldades presentes, necessita se relacionar com seu meio, e caso não o faça deverá arcar com determinadas conseqüências. Talvez a mais cruel de todas seja o fato da solidão forçar o indivíduo a uma autoavaliação emocional e afetiva, e quase sempre a nota subjetiva é muito baixa. Todos já aprenderam por experiência própria que não fomos feitos ou treinados para suportarmos por muito tempo a nós mesmos. Assim sendo, o estado constante de isolamento ou solidão acaba acarretando comportamentos destrutivos de toda a espécie, como por exemplo: distúrbios de personalidade, vícios e uma tendência rumo a autodestrutividade.

Se aprofundarmos a questão da solidão veremos que a mesma derruba por completo o narcisismo tão disseminado em nossa sociedade, pois embora a maioria das pessoas busquem apenas vantagens pessoais e até sintam deleite ao verem seus semelhantes em situação inferior, o fato básico que a solidão comprova é que qualquer atitude ou estilo de comportamento individualista leva com o passar do tempo a uma espécie de "falência do pensamento". A personalidade do indivíduo aos poucos vai sendo arrastada para pontos sombrios da vivência humana, e esse é o preço que milhares de pessoas pagam diariamente por não refletirem ou se conscientizarem de determinado estilo de vida ou conduta. Sobre o tópico acima gostaria de ressaltar que a solidão talvez seja um dos últimos baluartes que forçarão o ser humano numa trajetória mais humanitária. Afirmo tal coisa em função da exclusão social de nossa sociedade. Quando se pensa em ser excluído, todos acham que os únicos aspectos são: a falta de poder, dinheiro ou prestígio que acarretam tal desgraça. Porém, a solidão transborda todas as fronteiras econômicas e sociais, provando que a exclusão da vida, prazer e satisfação vão além de simples fatores econômicos, e que não há garantia nenhuma para todos nós de que algum dia também não seremos excluídos de alguma etapa fundamental da existência, o que abre a reflexão para a urgente necessidade de todos estarem abertos a um espírito mais comunitário de convivência.

Embora pareça absurdo em nossos tempos, deveríamos refletir sobre o quanto de nosso pensamento diário dedicamos as diversas questões que a vida nos apresenta. Logo descobriremos que a segurança econômica e necessidade de ascensão social são as categorias que mais consomem nossas energias. As questões humanas, principalmente referentes aos relacionamentos só aparecem perante um forte sofrimento de perda ou conflito pessoal. Nesse contexto pensamos sobre a solidão quando a mesma nos atinge da pior forma possível, ou seja, quando não conseguimos utilizar plenamente os nossos recursos; queremos amar e não temos a pessoa, desejamos criar e ninguém é sensível para algo novo, por exemplo.

A solidão revela nossas ambições de prazer não consumadas, uma espécie de morte da vontade própria, onde a impotência impera e o indivíduo já não mais controla seu fluxo de emoções positivas. Temos de perceber que numa era onde o desejo de poder e status social prevalecem, não poderia haver um sentimento mais disseminado do que a solidão, pois esta como disse anteriormente representa a conseqüência do investimento que damos às causas humanas, ou o quanto nos importamos com nossos sentimentos e das pessoas ao nosso redor. Enfim, a grande lição que a solidão nos mostra é que nossa autoestima e felicidade dependem de alguém, e numa simples demonstração de afago, carinho ou reconhecimento, é que nos damos conta o quanto faz mal o estado de espírito petrificado que a solidão nos proporciona, evidenciando a inutilidade de todos os outros esforços, principalmente a ambição.

A solidão representa a derrota suprema do estilo de vida individualista de nossa era, embora não abrimos mão do mesmo em virtude de fantasias ou sonhos de grandeza ou sucesso pessoal. Querer conciliar desejos de destaque ou superioridade com apreço e reconhecimento de nossos mais profundos sentimentos humanos por alguém é tarefa impossível. Delimitar nossas prioridades é o desafio de todo o conflito humano atual e do futuro. É sempre ingrata a missão de resolver determinado problema quando estamos as portas do sofrimento mais intenso possível. Assim sendo, a prevenção é sempre o cultivo de uma atitude de vida que eleja a sensibilidade, dedicação plena e o máximo de atenção para com as pessoas responsáveis por nossa felicidade, pois a ausência das mesmas representa a catástrofe da solidão.

PARTE TRÊS: A SOLIDÃO COMO CONFINAMENTO DO POTENCIAL AFETIVO

A pior solidão não é a ausência da realização de determinados desejos ou fantasias, mas principalmente a anulação de determinado potencial ou habilidade.- ANTONIO CARLOS PSICÓLOGO

O homem solitário se devora a si mesmo, o outro é devorado pela sociedade, então escolhes.- NIETZSCHE

Quando pensamos na solidão, a primeira idéia que passa por nossa mente é se temos ou não verdadeiros amigos, a qualidade de uma relação afetiva que estamos vivenciando, o quanto somos estimados ou procurados por quem sentimos afeição ou apreço. Embora tudo isso seja bastante natural, gostaria de enfatizar nesse estudo a relação da solidão com a própria personalidade do indivíduo. Quero dizer não apenas de algo existencial, mas tão somente como cada um direciona sua meta de vida. Talvez não nos demos conta, mas um dos atributos de nossa sociedade que mais contribuem para o aumento da solidão é o confinamento de papéis em que vivemos diariamente. Somos treinados desde os primórdios a agirmos de acordo com determinadas expectativas ou deveres sociais. Caso haja uma transgressão, o resultado quase sempre é culpa ou ansiedade. Isso se dá no âmbito profissional, social e pessoal, e quase sempre aceitamos os fatos como nos são apresentados.

Se investigarmos um pouco a fundo o comportamento cotidiano do homem contemporâneo, confirmaremos o exposto acima. Quase nunca conseguimos ligar para alguém quando temos vontade, pois ficamos preocupados com o que a pessoa pense a nosso respeito; quase nunca podemos nos entregar verdadeiramente a algo ou alguém, pelo terrível temor da perda, isso apenas para citar alguns exemplos. Se formos para o campo profissional é coisa não é menos aterradora. É um verdadeiro drama descobrirmos nossas verdadeiras potencialidades e conseguirmos sua realização. Nesse ponto reside outro aspecto fundamental da solidão, a não descoberta ou realização da potencialidade de um ser humano. Notem que isso passa a ser uma espécie de condenação, pois jamais conseguiremos ser ótimos em algo, e o que resta é a aceitação resignada de um trabalho totalmente desprovido de prazer ou meta mais ampla. Nos sentimos então absolutamente sós e desamparados, pois assistimos nossa castração de forma absolutamente indolente e criminosa, pois tentamos compensar tal fato buscando talvez a segurança econômica.

Vamos pensar pela seguinte ótica, se alguém não consegue atuar seu maior talento ou habilidade perante a sociedade, imaginem o que esta última não fará acerca das imperfeições desse mesmo indivíduo? É nesse exato ponto que deveríamos nos questionar sobre o seguinte: O que se tem feito acerca da solidão e conseqüente ódio interno resultante? Apenas se tem caminhado para o egoísmo e rigidez excessiva da disciplina, visando que outros tenham também um mundo tão sombrio e angustiante? Após anos como psicólogo fico ainda perplexo ao presenciar como um casamento não traz consigo a mínima garantia de satisfação e felicidade sexual, sendo que a masturbação continua sendo uma constante de acordo com relatos de pacientes. Novamente falamos de potencial não efetuado, de possibilidades não realizadas. O que fazer no caso acima descrito, em que duas pessoas não estão aptas a se satisfazerem mutuamente? Isso sem dúvida é outra prova brutal de isolamento e solidão a dois.

É fundamental que todo ser humano esteja atento ao modo como enfrenta etapas cruciais em seu desenvolvimento, desde a tenra infância como a entrada na escola, passando pela adolescência, escolha profissional e a questão do amor. O que foi descrito anteriormente sobre o potencial não efetuado, remonta a um estilo de vida que chamaria de "projeto da desistência", ou seja, a pessoa vai tolhendo seu próprio potencial, seja desistindo ou não encontrando sua vocação, seja não se satisfazendo afetiva e sexualmente. Com toda a certeza essa deve ser uma das maiores pragas psíquicas de nossos tempos. Como resultado temos a total solidão e duas variáveis que produzem os maiores índices de ansiedade: a impotência e medo em quase todas as esferas da existência. Escolher a solidão é esconder as carências mais profundas, por vergonha ou medo de que alguém descubra o quanto um ser humano pode estar faminto de afeição. A solidão é uma tentativa surrealista de se tentar controlar o processo do amor. A mágoa maior não é resultante de uma relação que não deu certo, mas principalmente por nunca termos nenhum controle sobre futuras paixões ou decepções, sendo que a solidão é a tentativa desesperada para se colocar um freio nesse processo.

PARTE QUATRO: A SOLIDÃO E O ARREPENDIMENTO

É um fato absolutamente consumado de que a solidão é puramente uma soma de energia egoísta enraizada em nossa alma, e embora a pessoa talvez tenha razão em relação ao seu passado de sofrimento e seus esforços para não repetir novamente tal drama, a mensagem básica é a de que não devemos seguir dita trilha de isolamento.A solidão jamais pode ser encarada como sinônimo de tristeza, depressão ou infelicidade como boa parte das pessoas pensam, pois se seguirmos este raciocínio estaremos encobrindo o verdadeiro problema básico- A marca mais forte da solidão é a repetição constante de uma mesma experiência ou destino afetivo outrora vivenciado. O desafio final é exatamente este ponto, como se libertar de algo enraizado em nosso ser que nos leva sempre de volta ao início de uma jornada de desamparo e desilusão. ANTONIO CARLOS -PSICÓLOGO.

No âmbito interpessoal fica claro que na atualidade um dos fatores de maior sofrimento psíquico é sem dúvida nenhuma a solidão sentida como um elemento corrosivo da saúde e bem estar pessoal. Se fôssemos obrigados a produzir um manual de sobrevivência psíquica para a nossa era, a primeira regra seria o aprendizado de como aumentar nossa tolerância à frustração. A solidão caminha exatamente no oposto, acentuando a desolação dos acontecimentos pretéritos; bloqueando a oportunidade de novas experiências de prazer, sendo que a conseqüência inevitável é a cristalização do luto eterno em nossa alma, obrigando a pessoa diariamente a vivenciar todo o tipo de medo e desconfiança perante novas perspectivas.

Uma das raízes pouco exploradas da solidão em todos os trabalhos teóricos é a questão do arrependimento. Talvez este seja um dos mais paralisantes sentimentos humanos, pois ao mesmo tempo carrega uma semente de orgulho perante a reparação de um erro, e o tédio ou falta de motivação para uma nova experiência. Aprofundando a tese acima descrita, a prova máxima do arrependimento é quando temos certeza de que nossas vivências atuais são muito piores do que os acontecimentos dolorosos de nosso passado, e é exatamente esta vivência dolorosa que a solidão visa não repetir, à custa do convívio vital com outros seres humanos.

É um fato absolutamente consumado de que a solidão é puramente uma soma de energia egoísta enraizada em nossa alma, e embora a pessoa talvez tenha razão em relação ao seu passado de sofrimento e seus esforços para não repetir novamente tal drama, a mensagem básica é a de que não devemos seguir dita trilha de isolamento.

A questão dinâmica da solidão se dá através de duas vertentes: Qual a capacidade de investimento profundo num novo plano afetivo versus a quantidade de mágoa acumulada pelo passado da pessoa transtornada pela carência? O aspecto central desta conscientização é a avaliação de onde provém nosso conflito básico, se no passado, presente ou o temor do futuro. Obviamente que dependendo do grau de sofrimento todas as três esferas podem ser afetadas, mas é fundamental a localização pelo menos parcial do início de determinado drama existencial.

A questão é absolutamente clara, a solidão é sinônimo irrefutável do passado, criando uma película em nossa esfera afetiva totalmente impermeável a qualquer nova experiência gratificante. Então devemos nos perguntar baseados nesta conclusão o que de nosso passado é profundamente saudável ou aproveitável? Sem dúvida alguma descobriremos que determinado acúmulo de experiências preenchem quase que na totalidade a possibilidade de um destino pessoal completamente diverso do que estamos acostumados a vivenciar. Neste ponto devemos inserir a questão do perdão no âmbito da solução da encruzilhada do problema apresentado. Se boa parte das religiões tivessem um caráter sério, o perdão jamais poderia ser um instrumento de regozijo próprio ou de poder pessoal perante alguém que sabemos que sempre esteve em déficit com sua natureza humana, mas sobretudo a consciência pessoal e inalienável de que devemos prosseguir, pois caso contrário o resultado será a somatória de mágoa ou autocomiseração adquiridas no transcorrer de nossas experiências. Sempre a derradeira esperança é a possibilidade de realização futura, desde que cultivemos nosso potencial ou dever pessoal para novas empreitadas.

A solidão jamais pode ser encarada como sinônimo de tristeza, depressão ou infelicidade como boa parte das pessoas pensam, pois se seguirmos este raciocínio estaremos encobrindo o verdadeiro problema básico, pois a marca mais forte da solidão é a repetição constante de uma mesma experiência ou destino afetivo outrora vivenciado. O desafio final é exatamente este ponto, como se libertar de algo enraizado em nosso ser que nos leva sempre de volta ao início de uma jornada de desamparo e desilusão.

Todo o processo acima citado nos leva a conclusão de que a solidão apenas nos mostra como estamos absolutamente despreparados para a questão da morte em todos os sentidos, sendo que jamais reconhecemos que determinados sinais sociais nos mostram a finitude de nossas experiências gratificantes acumuladas, nos mostrando que a mais dolorosa experiência humana sempre foi a mudança em todas as esferas da existência, e a falta de instrução ou treinamento para algo tão óbvio da natureza humana passa a ser um dos pilares de toda a estrutura social e pessoal que petrificam o ser humano no medo e apatia. Jamais devemos nos esquecer que em suma a solidão apenas representa a total falta de investimento na esfera da troca afetiva.

PARTE CINCO: A SOLIDÃO COMO HÁBITO E O EXÍLIO DO PRAZER

A única possibilidade da solidão não mostrar diariamente o lado mais cruel e desesperador da vida,é a pessoa retornar seu sofrimento de uma forma criativa, que ajude outros seres humanos a minimizarem esse fardo. Sentir constantemente a solidão é uma espécie de renúncia voluntária aos mais altos anseios de satisfação e felicidade. Se realmente desejarmos salvar alguém, deveríamos encarar a solidão como prioridade absoluta, pois caso uma pessoa não se sinta válida no convívio humano, sua meta será a angústia, isolamento e depressão. Sentir ou não a solidão, estando acompanhado, ou por uma razão existencial, é a medida mais absoluta da qualidade de nossa vida. ANTONIO CARLOS- PSICÓLOGO.

Não há talvez outro sentimento humano que impere sobre os demais do que a solidão. Esta desafia todas as estruturas e esferas de nossa sociedade tipo: dinheiro, posses, status, sexualidade, beleza e poder. Sem sombra de dúvida podemos eleger a solidão como o topo do sentimento humano deste século, nenhum outro como descrito acima consegue por tanto tempo ocupar nossa alma e desprovê-la do sentido da vida. Podemos sentir raiva de uma determinada pessoa, estarmos irados, preocupados com o sustento, mas nada é mais angustiante e fatal para nossa auto-estima do que a conscientização de que estamos carentes, sentir que poucos ou ninguém mantém um contato profundo e duradouro conosco, que não somos importantes ou especiais para alguém. A solidão impede o livre fluir de quase todas as potencialidades ou desejos humanos. É até interessante notar como esse tema nunca foi esmiuçado pela psicologia, dada sua importância estratégica no contexto de nossa atual sociedade. Desde cedo somos educados para o sucesso, a glória, poder ou vantagens, mas ninguém nos conta o que fazer quando não sentimos mais vontade nisso tudo, por sentirmos o sentimento da solidão. Nenhuma escola ou educador nos ensina a como lidar com tão corrosivo elemento da alma humana, apenas sentimos o vazio, a ausência, e impotentes ficamos no terrível dilema da espera de que algo aconteça e mude essa vida estéril. Impotência é nosso deus central nos dias atuais, e a única sabedoria é retirar algum conhecimento dessa experiência.

A solidão muitas vezes revela a banalidade e inutilidade de nossa vida atual, nos força a ver com toda a clareza nossa mais angustiante infelicidade, pois a solidão não é apenas sinônimo desta última, mas pai de tudo o que não deu certo, o guia para além de nossa ingenuidade e ambições não efetuadas, pois ela nos mostra o maior fardo de todos, nós mesmos, sem qualquer fuga, escapismo ou distração, pois no fundo o sentido de uma relação é o de se esquecer a si próprio, ocultar mesmo que temporariamente nosso mais profundo vazio da existência e dificuldade em descobrirmos um sentido para tudo isso. Todos sabemos que a sensação máxima de derrota é a falta de vivenciar uma experiência verdadeiramente amorosa, e a solidão sempre está por detrás dessa extrema dificuldade.

A solidão nos deixa dois legados à nossa escolha: a possibilidade da reflexão e conseqüente mudança de atitude, no sentido de valorizarmos e nos abrirmos para novos contatos e pessoas, ou a teimosia e reforço no sentimento de superioridade, achando que qualquer mudança seria encarada como uma espécie de submissão, nesse estágio o orgulho torna-se mais uma companhia, dissimulando a total fragilidade e debilidade da pessoa. A solidão se torna enfaticamente uma doença quando cria um espírito de indolência numa pessoa, fazendo com que a mesma julgue positivo, produtivo e até viável o estar só, pensando tirar proveito do fato de não estar tendo trabalho ou esforço para procurar contato humano. Nada é pior do que iludir sua não satisfação.

A solidão ainda reforça a ira da pessoa contra o mundo, pais e educadores deveriam estar atentos para tal fato, e impedir que a criança ou o adolescente vá criando seu mundo à parte, seja ficando horas num computador ou vídeo game, seja não se interessando pelo elemento humano, dizendo estar satisfeito com seu comportamento ou meta de vida, pois a pessoa nesse caso acaba por utilizar sua neurose para se vingar do ambiente que não lhe proporcionou afeto ou segurança, tentando inverter a situação, enxergando na doença a melhor saída para sua vida. A solidão cria esse terrível paradoxo, um membro de uma espécie rejeita seus semelhantes, instalando a absurda fantasia de que alguém é feliz sem a companhia dos demais, além da revolta pessoal por não ser procurado, adotando um comportamento no mínimo extravagante, obtendo dessa maneira a atenção que não conseguiu da forma natural.

É impressionante como a sociedade direciona nossa atenção somente aos problemas econômicos, e os problemas pessoais são deixados para trás, talvez só lembremos deles através da solidão, nesse sentido, a mesma se impõe como tentativa de restaurar a humanidade, de percebermos a total inutilidade do que estamos fazendo, nossa desorientação perante os anseios de nossa alma, os quais muitas vezes não damos a mínima, nossa falta de coragem para iniciarmos algo produtivo para a vida. Por fim, a solidão nada mais é do que o reflexo do histórico de um modelo de vida de determinada pessoa é a crença ou não que alguém depositou em outro ser humano, sua disposição ou não para a troca e companheirismo, sua escolha pessoal entre doar algo mesmo sabendo do não retorno, ou insistir na inveja e raciocínio egoísta.

PARTE SEIS: SOLIDÃO NA ABORDAGEM DO COMPLEXO DE SUPERIORIDADE E INFERIORIDADE DE ALFRED ADLER.

FRASES DE ADLER SOBRE A SOLIDÃO:

O solitário é aquele que tem tempo de sobra para pensar em sua total insatisfação, o infeliz é aquele que jamais terá essa oportunidade.

Solidão a dois não é tanto saber que o outro jamais lhe completará, mas principalmente o total desprezo e indiferença em relação aos nossos anseios e expectativas, é ser constantemente ignorado e abandonado na presença de alguém.

A solidão suprema não é a incapacidade atual de viver uma experiência de real prazer, mas tão somente o temor de experenciá-lo ao encontrarmos, ou seja, o irmão predileto da solidão chama-se desperdício ou talvez o medo do amor.

Solidão é o terrível desespero da espera por alguém que nos traga aquilo que mais necessitamos.

Quando o sofrimento nos derrota, somos aniquilados, quando o aceitamos nos transformamos num ser maior.

Muito pior do que o adeus é a certeza do nunca mais.




A solidão é como uma ressaca do mar, trazendo ou nos dando uma dimensão de todos os nossos atos e pensamentos, ela nos mostra todo um histórico e estilo de vida, sendo na maioria das vezes uma prova indesejada da nossa falta de responsabilidade pelo ente humano, é ainda o produto de tudo aquilo que sempre tentamos fugir,o desespero. Sua imperativa presença não dá espaço para fugas ou escapismos como quando estamos absortos em algo, mas revela cruelmente nossos mais remotos hábitos, medos, temores e anseios, sendo que este último é uma tentativa desesperada da mente para se proteger dos primeiros, pois o desejo na solidão tem a função vital de proteção da saúde psíquica, pois caso contrário, nosso inconsciente é literalmente invadido pelas mais temidas idéias destrutivas e persecutórias.

O verdadeiro pânico é o sentimento não apenas de estar só, mas a sensação terrificante de desamparo pessoal e social, principalmente dentro de um contexto que apregoa a equação: "solitário é igual a fracassado". O impacto desse lema nas pessoas é extremamente avassalador, querendo todos fugir desse estigma ou cicatriz de inépcia social, produzindo maiores danos ainda, como a baixa qualidade das escolhas ou extrema ansiedade. Obviamente, podemos deduzir que a procura por relações de certa forma é um alívio ou fuga daquilo que realmente somos ou tememos em nós mesmos, sendo a ansiedade uma vacina eficaz e preferível ao profundo autoconhecimento. As razões dessa conduta são mais do que históricas, pois séculos de cristianismo, forçaram a todos a ocultar partes indesejáveis e ameaçadoras da personalidade, imputando apenas aos desajustados e psicopatas os elementos destrutivos do ser humano.

O ponto central desse presente estudo é o fato da solidão revelar até que ponto verdadeiramente desejamos a troca e contato humano, nesse caso a solidão passa a ser um estímulo e até um objeto de reflexão apurada para uma futura busca, selecionando melhor as escolhas, dando inclusive uma dimensão do que realmente gostamos ou daquilo que profundamente sentimos saudades. Diria que esse seria o lado positivo da solidão, uma dissecação de nosso estilo de vida como descrito anteriormente, pesando-se todas as vantagens e desvantagens de nossa conduta, neste caso a solidão seria um intervalo para que pudéssemos reavaliar nossas experiências de vida, e o que realmente estamos buscando, e a maneira pela qual estamos fazendo isso. É fundamental sentirmos essa solidão para que possamos refletir e ajustar padrões viciados de conduta e comportamento. Fugir da solidão constantemente significa abafar essa oportunidade de crescimento interior.

Infelizmente isso ocorre devido à insegurança, e temor de que a solidão se torne uma constante na vida da pessoa, achando que não terá forças para sair desse quadro devido a um forte complexo de inferioridade pessoal. A solidão está intrinsecamente relacionada com o passado, pois todo ser humano em estado de solidão pensa no mesmo, seja em termos de arrependimento, prazer pretérito perdido, mágoa, raiva, ódio, angústia, saudades, etc. Mas é justamente nesse ponto que reside um fator central, pois o temor à solidão passa a ser o medo da memória, de nossa história pessoal, da avaliação ou prova sobre o grau de prazer e felicidade do eu. No próprio processo de terapia temos um exemplo vivo do medo à solidão, FREUD chamou de "resistência", quando um determinado paciente não conseguia se libertar de um determinado conteúdo neurótico, apelando ou para o silêncio na hora terapêutica, ou até mesmo para a sedução do analista com o propósito de anular sua atuação. ALFRED ADLER foi o primeiro a perceber que a resistência tinha um fundo de solidão, sendo que o intuito do paciente era criar um "combate" com o analista para desmoraliza-lo, dado o ódio do paciente por estar em análise, sendo que isso na cabeça do mesmo era uma prova de seu fracasso em desenvolver o que ele chamava de "sentimento de comunidade", relações sociais que visassem a cooperação e solidariedade entre as pessoas, assim sendo a resistência era contra o sentimento de se envolver e se doar para algo ou alguém. Sem sombra de dúvida este foi o século onde o ser humano mais se sentiu solitário e desamparado, seja por problemas relacionados à estrutura político-social-econômica ou por neuroses pessoais.

O fato é que solidão também está relacionada à questão do poder em nossa era, pois toda estrutura de poder teme uma maior troca e aproximação das pessoas, devendo imputar na cabeça do indivíduo que sua solidão não é fruto de um sistema, mas tão somente de sua incompetência pessoal. Deveríamos refletir bastante sobre isso, para que possamos isolar as verdadeiras causas do problema. Apostar sempre no privado e individual é acelerar o mecanismo da solidão, não que se esteja pregando a anulação pessoal, pelo contrário, estar integrado consigo mesmo é lutar para que o outro também realize seu potencial, porém em nossos tempos apenas assistimos a devoção ao estritamente pessoal. A verdade é que estamos absolutamente indolentes e apreensivos para buscarmos novas relações, volto a insistir no medo da memória, pois esta encerra o temor ou uma negativa ao novo, dizendo-nos constantemente que se nos arriscarmos novamente, todo o sofrimento que vivemos no passado poderá se repetir.FREUD chamava esse mecanismo psíquico de "compulsão à repetição", uma tentativa neurótica de reviver constantemente um trauma, até que a pessoa se torna cônscia do processo que havia direcionado principalmente seus afetos.



ADLER achava que tal mecanismo se devia ao fato da pessoa insistir sempre em ser amparada pelo seu meio, pois o sofrimento seria uma espécie de escudo para nunca se atingir a independência, forçando um cuidado e atenção especial para a pessoa acometida pela neurose, o que ele chamava de "pessoa mimada", o protótipo de ser humano incapaz de troca, mas tão somente direcionado para os benefícios que possa obter através de seu distúrbio. A solidão no psiquismo humano é sentida como um processo doloroso de exclusão na obtenção ou participação de experiências afetivas de troca ou prazer, é sentir que todos os demais tem um direito que nos é negado. Segundo a teoria psicanalítica, a fantasia que a criança desenvolve acerca da sexualidade dos pais, é que "há uma espécie de festa na qual ela está excluída", sendo este exatamente o sentimento do solitário acerca de sua real condição humana, sua crença na incapacidade de obter semelhante satisfação.

ADLER acreditava que a criança percebia tal acontecimento não como um prazer de natureza sexual negado, mas principalmente o ódio da mesma em relação à pessoa que detinha o poder sobre sua inclusão ou exclusão de determinados eventos, ou seja, uma luta contra a suposta tirania e dominação dos pais, traçando um paralelo entre a luta de classes no modelo econômico que vivemos. Outro ponto muito interessante acerca da psicologia do solitário, observado em terapia é o de que determinado indivíduo parece ter criado historicamente todo um "projeto" voltado à solidão. Citarei a seguir alguns elementos que contribuem para tal finalidade, embora muitos deles sejam preconceitos ditados pela sociedade, mas que acabam sendo incorporados pela pessoa, visando evitar uma experiência de aproximação, alguns exemplos: neuroses em geral, onde a pessoa acaba por ficar debilitada, dificultando uma real experiência de prazer com o outro, sendo que a relação se torna de extrema dependência, por exemplo, a síndrome do pânico, onde o medo e pavor forçam uma atuação excessiva e desgastante sobre o indivíduo, e o mesmo é incapaz de prosseguir suas tarefas profissionais ou sociais, o mais interessante é que determinadas crises de pânico sempre ocorrem quando o sujeito se encontra numa situação social ou simplesmente saiu de casa, revelando que o único ambiente seguro é seu lar, rejeitando por completo a aproximação com outras pessoas.

Ainda sobre idéias aterradoras, lembro-me de um paciente que tinha verdadeira fobia de estar contaminado com o vírus HIV, e embora os exames nada revelassem, ficou claro seu intuito de afastar-se das pessoas, principalmente no tocante ao planejamento familiar, pois pensava que como era portador, jamais poderia ter filhos, ou constituir uma relação.Ele inclusive havia fixado um prazo de dez anos para ter novamente relações sexuais, pois em sua mente era o tempo que escutara para ver se o vírus se manifestava ou não. Outro exemplo desse projeto da solidão são de pessoas que moram sozinhas, que não conseguem organizar as tarefas rotineiras, faltando muitas vezes os cuidados elementares do lar, fica patente uma tentativa de afastar qualquer possibilidade de alguém compartilhar sua habitação, a primeira vista parece algo banal, mas observando com mais minúcia, vemos que a pessoa simplesmente não consegue efetuar o básico, carregando inclusive uma carga de ódio contra esse tipo de tarefa, que simboliza dar as boas vindas para quem deseja adentrar seu lar. Alcoolismo e drogas em geral são mais do que óbvios nesse projeto, entrando ainda masturbação excessiva como dizia o próprio ADLER, pois tenta fazer sozinho aquilo que deveria ser compartilhado; ainda a obesidade como fator de rejeição dentre outros.

Volto a alertar que esses conteúdos citados carregam forte conotação preconceituosa, devendo ser avaliados sob a luz do problema da pessoa em si, jamais devemos generaliza-los. Espero que este estudo tenha proporcionado uma reflexão ou um breve alívio, para um problema de tamanha magnitude tão pouco estudado pelas ciências sociais.

Bibliografia: ADLER,ALFRED: O SENTIDO DA VIDA. EDITORA PAIDÓS, CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO 1937

FREUD, SIGMUND: OBRAS COMPLETAS. BIBLIOTECA NUEVA, MADRID, ESPANHA 1981

AGRADEÇO A IDÉIA E COLABORAÇÃO FUNDAMENTAL SOBRE O TEMA DOS SOCIÓLOGOS: SIMONE JORGE E IRINEU FRANCISCO BARRETO JÚNIOR.


"NÃO TEMA A TERAPIA, MAS A UTILIZE PARA A MUDANÇA DE UM ESTILO DE VIDA QUE PARECE NÃO TER FIM."

POR RAZÕES ÉTICAS, QUALQUER ORIENTAÇÃO SÓ É POSSÍVEL PESSOALMENTE ATRAVÉS DE CONSULTA PSICOLÓGICA.

Fonte:  Antonio Carlos Alves de Araujo - Psicólogo - C.R.P: 31341/5

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