Caro leitor, em virtude da proximidade do dia 07 de setembro, data que valorizo muito por causa do seu significado para a história do Brasil, e para a educação cívica dos brasileiros, hoje escrevo sobre algumas curiosidades daquela época e das pessoas que a vivenciaram. Vou botar no formato “você sabia que”:
1 – Os pais de D. Pedro I eram D. João VI, príncipe regente de Portugal, e Dona Carlota Joaquina, princesa espanhola, filha do rei da Espanha, Carlos IV. Ambos se casaram em 1785, quando ela tinha apenas 10 anos de idade?
2 – Ambos eram muito diferentes e não se davam bem. D. João era tímido, medroso, não gostava de ter de decidir, fugia dos conflitos e era pacífico e muito religioso. Ela era ambiciosa, autoritária, cheia de energia e muito corajosa. No Brasil, moravam em lugares diferentes. Ele no palácio da Quinta da Boa Vista. Ela, num palácio em Botafogo. Ele amava o Brasil e sofreu em ter de ir embora para Portugal. Ela não via a hora de chegar à Europa de onde não queria ter saído?
3 - A mãe de D. João VI era rainha de Portugal, mas com o tempo ficou louca e não pode mais governar o reino. Veio para o Brasil em 1808 com toda a Corte Portuguesa e aqui morreu em 1816. Só, então, D. João foi coroado rei de Portugal, quando estava no Brasil em 1816?
4 – D. Pedro I nasceu em Portugal em 12/10/1798. Aos nove anos veio com a Família-Real portuguesa para o Brasil. Amou a nova terra. Aprendeu a liberdade aqui. Adorava cavalgar pelas florestas e morros do RJ. Não gostava muito de estudar. Possuía inteligência acima do normal e estudou música. Cresceu de forma muito diferentes da da maior parte dos reis: brincava na rua com pessoas do povo e com escravos, freqüentava bares e desgostava da vida da Corte?
5 - Diferentemente de seu pai, D. Pedro I era muito corajoso, homem de ação, capaz de tomar decisões arriscadas e era muito impulsivo. Isto o levou ao papel de líder principal do movimento de independência do Brasil. No entanto, era, também, capaz de cometer grandes injustiças e agir de forma precipitada e passional?
6 – Em 1822, num intervalo de apenas quatro meses, saiu do RJ e visitou SP e MG, distantes cerca de 500 km do Rio, para resolver problemas políticos lá surgidos. Percorreu a distância em pouco mais de uma semana, numa época em que a viagem tinha de ser feita a pé ou a cavalo?
7 – O dia do Fico, 09/01/1822, foi um dos seus dias mais gloriosos. Diante do pedido de boa parte da população do RJ clamando para que não fosse embora do Brasil, pronunciou a célebre frase: “Se é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”. Permaneceu no Brasil e se tornou seu líder incontestável?
8 – No dia 07 de setembro, em viagem de volta para o RJ, nas proximidades do riacho Ipiranga, em SP, tomou conhecimento das decisões de Portugal em relação ao Brasil. Portugal queria reescravizar o Brasil. D. Pedro I, então, teria pronunciado o grito do Ipiranga bradando “Independência ou morte”. Fato, entre outros, que significou o rompimento entre os dois países?
9 – As mulheres foram uma constante na vida de D. Pedro I. Com elas teve muitos aborrecimentos, embora ele as tenha feito sofrer amargamente. Aos 19 anos casou-se com a princesa Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha do imperador. Teve com ela sete filhos, dois dos quais morreram?
10 – Em 1822, conheceu Domitila de Castro Canto e Melo, em Santos, por quem se apaixonou. Levou-a para o RJ e viveu com ela um tórrido romance. Cumulou-a de títulos, o maior deles “Marquesa de Santos”. Esta situação o tornou muito impopular. Com o tempo, a Marquesa foi hostilizada pelo povo pela situação humilhante em que ficou a esposa de  D. Pedro I?
11 - Em 1826, Leopoldina morreu por causa de um parto complicado, em razão de uma briga com D. Pedro I, por causa da Marquesa de Santos, sua amante?
12 – Em 1828, os amigos de D Pedro I, após desgastante procura, encontraram uma mulher de linhagem nobre na Europa, bem mais nova que ele e que aceitou a proposta de casamento. Tinha nascido em Milão e se chamava Amélia Augusta Eugênia Napoleão de Beauharnais, duquesa de Leuchtenberg. O casamento foi feito em 1829. D. Pedro a amou e teve uma filha com ela. Para se casar, D. Pedro I teve que dispensar a sua amante e a separação entre ambos se deu em 1828, não sem confusão e muito sofrimento?
13 – Em 07/04/1831 D. Pedro I renunciou ao poder no Brasil em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, o futuro D. Pedro II, que tinha apenas cinco anos de idade. D. Pedro I foi para Portugal e nunca mais voltou ao Brasil e nunca mais viu os seus filhos. Morreu novo, no dia 24 de setembro de 1834, com apenas 36 anos, de tuberculose?
14 – Para além dos seus erros e acertos, D. Pedro I foi um homem que fez a diferença. Viveu pouco, mas viveu intensamente. Quando rememoramos o dia 07 de setembro, é dele a imagem mais forte que nos vem à mente. Foi um grande líder para o Brasil, num momento de grande importância. Seus restos mortais foram trazidos ao Brasil em 1972, quando se comemoraram os 150 anos da independência. Estão sepultados no mausoléu em frente ao museu do Ipiranga em SP, no Parque da Independência?

fonte: Isaías Pascoal


O "Independência ou Morte", quadro de Pedro Américo (1843-1905),
representa D. Pedro I no momento do Grito do Ipiranga, em
7 de setembro de 1822.
            O processo  de independência começa  com o agravamento  da crise do
sistema colonial e se estende até a adoção da primeira Constituição brasileira,
em 1824.

            As revoltas do  fim do século  XVIII  e começo  do XIX,  como a  Inconfi-
dência Mineira,  a  Conjuração Baiana  e  a  Revolução Pernambucana de 1817,
mostram o enfraquecimento dos Estados Unidos (1776)  e  a Revolução France-
sa (1789) reforçam os argumentos dos defensores das ideias liberais  e republi-
canas.
            Cresce  a condenação internacional  ao  absolutismo  monárquico e  ao
colonialismo.
            Aumentam as pressões externas e internas contra o monopólio comer-
cial português e o excesso de impostos numa época de livre-mercado e circu-
lação de de mercadorias.
Corte portuguesa
               A instalação da Corte portuguesa no Brasil, em 1808, contribui para a
separação definitiva das duas nações.
            A abertura dos portos,  a elevação  da colônia  à situação  de  reino e a
criação do Reino Unido de Portugal,  e  Algarve praticamente cortam os víncu-
los coloniais e preparam a independência.
            Com a  Revolução do Porto, em 1820, a  burguesia portuguesa tenta fa-
zer o Brasil retornar à situação de colônia.
            A partir de 1821,  as  Cortes Constituintes - o  Parlamento lusitano - to-
mam decisões  contrárias aos  interesses brasileiros,  como a  transferência  de
importantes órgãos administrativos para Lisboa.
            Também obrigam  Dom João VI a jurar lealdade  à Constituição por elas
elaborada e a retornar imediatamente a Portugal.
            O rei português volta, mas  deixa no Brasil o filho Dom Pedro como Re-
gente, para conduzir a separação política, caso fosse inevitável.

            Pressionado pelas  Cortes Constituintes,  Dom João VI  chama  Dom Pe-
dro à Lisboa.
            Mas o príncipe regente resiste às pressões,  que considera uma tentati-
va de esvaziar o poder da monarquia.
            Forma-se em torno dele um grupo de políticos brasileiros  que defende
a manutenção do status do Brasil no Reino Unido.
            Em  29 de dezembro de 1821,  Dom Pedro  recebe  um  abaixo-assinado
pedindo que não deixe o Brasil.
            Sua decisão de ficar é  anunciada no dia  9 de janeiro do ano seguinte,
num gesto enfático. O episódio passa à História como o Dia do Fico.

            Articulações políticas - Entre  os políticos  que cercam o Regente estão
os irmãos Antonio Carlos e José Bonifácio de Andrada e Silva,  e o Visconde de
Cairu, José da Silva Lisboa.
            Principal ministro  e  conselheiro  de  Dom Pedro,  José Bonifácio luta,
num primeiro momento,  pela manutenção dos vínculos com a antiga metrópo-
le, resguardando o mínimo de autonomia brasileira.
            Convencido de que a separação é irreversível,  aceita a independência
desde que a monarquia continue.
            Para ele,  o regime monárquico  é o único capaz de neutralizar a inter-
venção portuguesa nas províncias e preservar a unidade político-territorial do
país.
            Fora da Corte, outros líderes liberais, como Joaquim Gonçalves Ledo e
Januário da Cunha Barbosa, atuam nos jornais e nas lojas maçônicas.
            Fazem pesadas críticas ao colonialismo português e defendem total se-
paração da metrópole.

            Em  3 de junho de 1822,  Dom Pedro  recusa fidelidade  à  Constituição
portuguesa e convoca a primeira Assembléia Constituinte brasileira.
            Em 1º de agosto, baixa um decreto considerando inimigas tropas portu-
guesas que desembarquem no país.
            Cinco dias depois,  assina o  Manifesto  às Nações Amigas,  redigido por
José Bonifácio.
            Nele,  Dom Pedro justifica  o  rompimento com as  Cortes Constituintes
de Lisboa  e assegura  "a independência  do Brasil,  mas como  reino  irmão  de
Portugal".

Independência
            Em protesto, os portugueses anulam a convocação da Assembleia Cons-
tituinte brasileira,  ameaçam com o envio de tropas e exigem o retorno imedi-
ato do príncipe regente.
            No dia 7 de setembro de 1822,  numa viagem  a  São Paulo,  Dom Pedro
recebe as exigências das Cortes. Irritado, reage proclamando a Independência
do Brasil às margens do Rio Ipiranga.
            Em 12 de outubro de 1822, é aclamado Imperador pelos pares do Reino
e coroado pelo bispo do Rio de Janeiro em 1º de dezembro, recebendo o títu-
lo de Dom Pedro I.
Nome completo do primeiro Imperador brasileiro,
Dom Pedro I (1798-1834):

Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.
 fonte: Gladiador
Conheça a história do Hino.
Hino da Independência
Quem o compôs foi o fluminense Evaristo Ferreira da Veiga e Barros (1799-1837), que era livreiro, jornalista, político e poeta. A maior parte da composição é anterior ao grito do Ipiranga. Favorável à independência, Evaristo da Veiga escreveu o poema que intitulou “Hino Constitucional Brasiliense” e o fez publicar.
O poema agradou o público da Corte (Rio de Janeiro) e, após a proclamação da Independência, foi musicada pelo então famoso maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal (1760-1830), que havia sido professor de música do jovem príncipe dom Pedro.
Sendo um amante da música, dom Pedro, em 1824, afeiçoou-se pelos versos de Evaristo da Veiga e resolveu compor ele mesmo uma melodia para o poema, criando assim aquele que se tornaria o Hino da Independência. Não se sabe ao certo a data em que foi composta, mas a melodia de dom Pedro substituiu a de Marcos Portugal.
A participação do imperador foi tão valorizada que, durante quase uma década, não só a autoria da música, mas também a da letra lhe foi atribuída. Evaristo da Veiga precisou reivindicar os seus direitos, comprovando ser o autor dos versos em 1833. Seus originais se encontram hoje na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
A partir da abdicação de dom Pedro I, o Hino da Independência foi sendo gradativamente deixado de lado. Somente em 1922, quando do centenário da Independência, ele voltou a ser executado. No entanto, na ocasião, a música de dom Pedro foi posta de lado, sendo substituída pela melodia do maestro Portugal.
Foi durante a Era Vargas (1930-1945), que Gustavo Capanema, então ministro da Educação e da Saúde, nomeou uma comissão para estabelecer definitivamente os hinos brasileiros de acordo com seus originais. Essa comissão, integrada entre outros pelo maestro Heitor Villa-Lobos, houve por bem restabelecer como melodia oficial aquela composta por dom Pedro I.
Relembre a letra do hino
Já podeis da Pátria filhos,
Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Já raiou a liberdade,
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.
Brava gente brasileira!
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil,
Houve mão mais poderosa,
Zombou deles o Brasil;
Houve mão mais poderosa
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil.
Não temais ímpias falanges
Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil;
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Parabéns, ó brasileiros!
Já, com garbo juvenil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil;
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Fonte: Uol Educação

O processo de independência do Brasil

GRITO DO IPIRANGAPara compreender o verdadeiro significado histórico da independência do Brasil, levaremos em consideração duas importantes questões:
Em primeiro lugar, entender que o 07 de setembro de 1822 não foi um ato isolado do príncipe D. Pedro, e sim um acontecimento que integra o processo de crise do Antigo Sistema Colonial, iniciada com as revoltas de emancipação no final do século XVIII. Ainda é muito comum a memória do estudante associar a independência do Brasil ao quadro de Pedro Américo, “O Grito do Ipiranga”, que personifica o acontecimento na figura de D. Pedro.
Em segundo lugar, perceber que a independência do Brasil, restringiu-se à esfera política, não alterando em nada a realidade sócio-econômica, que se manteve com as mesmas características do período colonial.
Valorizando essas duas questões, faremos uma breve avaliação histórica do processo de independência do Brasil.
Desde as últimas décadas do século XVIII assinala-se na América Latina a crise do Antigo Sistema Colonial. No Brasil, essa crise foi marcada pelas rebeliões de emancipação, destacando-se a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana. Foram os primeiros movimentos sociais da história do Brasil a questionar o pacto colonial e assumir um caráter republicano. Era apenas o início do processo de independência política do Brasil, que se estende até 1822 com o “sete de setembro”. Esta situação de crise do antigo sistema colonial, era na verdade, parte integrante da decadência do Antigo Regime europeu, debilitado pela Revolução Industrial na Inglaterra e principalmente pela difusão do liberalismo econômico e dos princípios iluministas, que juntos formarão a base ideológica para a Independência dos Estados Unidos (1776) e para a Revolução Francesa (1789). Trata-se de um dos mais importantes movimentos de transição na História, assinalado pela passagem da idade moderna para a contemporânea, representada pela transição do capitalismo comercial para o industrial.
aTiradentesOs Movimentos de Emancipação
A Inconfidência Mineira destacou-se por ter sido o primeiro movimento social republicano-emancipacionista de nossa história. Eis aí sua importância maior, já que em outros aspectos ficou muito a desejar. Sua composição social por exemplo, marginalizava as camadas mais populares, configurando-se num movimento elitista estendendo-se no máximo às camadas médias da sociedade, como intelectuais, militares, e religiosos. Outros pontos que contribuíram para debilitar o movimento foram a precária articulação militar e a postura regionalista, ou seja, reivindicavam a emancipação e a república para o Brasil e na prática preocupavam-se com problemas locais de Minas Gerais. O mais grave contudo foi a ausência de uma postura clara que defendesse a abolição da escravatura. O desfecho do movimento foi assinalado quando o governador Visconde de Barbacena suspendeu a derrama — seria o pretexto para deflagar a revolta – e esvaziou a conspiração, iniciando prisões acompanhadas de uma verdadeira devassa.
Os líderes do movimento foram presos e enviados para o Rio de Janeiro responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Todos negaram sua participação no movimento, menos Joaquim José da Silva Xavier, o alferes conhecido como Tiradentes, que assumiu a responsabilidade de liderar o movimento. Após decreto de D. Maria I é revogada a pena de morte dos inconfidentes, exceto a de Tiradentes. Alguns tem a pena transformada em prisão temporária, outros em prisão perpétua. Cláudio Manuel da Costa morreu na prisão, onde provavelmente foi assassinado.
Tiradentes, o de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais (21 de abril de 1789). Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder da metrópole.
O exemplo parece que não assustou a todos, já que nove anos mais tarde iniciava-se na Bahia a Revolta dos Alfaiates, também chamada de Conjuração Baiana. A influência da loja maçônica Cavaleiros da Luz deu um sentido mais intelectual ao movimento que contou também com uma ativa participação de camadas populares como os alfaiates João de Deus e Manuel dos Santos Lira.Eram pretos, mestiços, índios, pobres em geral, além de soldados e religiosos. Justamente por possuír uma composição social mais abrangente com participação popular, a revolta pretendia uma república acompanhada da abolição da escravatura. Controlado pelo governo, as lideranças populares do movimento foram executadas por enforcamento, enquanto que os intelectuais foram absolvidos.
Outros movimentos de emancipação também foram controlados, como a Conjuração do Rio de Janeiro em 1794, a Conspiração dos Suaçunas em Pernambuco (1801) e a Revolução Pernambucana de 1817. Esta última, já na época que D. João VI havia se estabelecido no Brasil. Apesar de contidas todas essas rebeliões foram determinantes para o agravamento da crise do colonialismo no Brasil, já que trouxeram pela primeira vez os ideais iluministas e os objetivos republicanos.
A Família Real no Brasil e a Preponderância Inglesa
Se o que define a condição de colônia é o monopólio imposto pela metrópole, em 1808 com a abertura dos portos, o Brasil deixava de ser colônia. O monopólio não mais existia. Rompia-se o pacto colonial e atendia-se assim, os interesses da elite agrária brasileira, acentuando as relações com a Inglaterra, em detrimento das tradicionais relações com Portugal.
Esse episódio, que inaugura a política de D. João VI no Brasil, é considerado a primeira medida formal em direção ao “sete de setembro”.
Há muito Portugal dependia economicamente da Inglaterra. Essa dependência acentua-se com a vinda de D. João VI ao Brasil, que gradualmente deixava de ser colônia de Portugal, para entrar na esfera do domínio britânico. Para Inglaterra industrializada, a independência da América Latina era uma promissora oportunidade de mercados, tanto fornecedores, como consumidores.
Com a assinatura dos Tratados de 1810 (Comércio e Navegação e Aliança e Amizade), Portugal perdeu definitivamente o monopólio do comércio brasileiro e o Brasil caiu diretamente na dependência do capitalismo inglês.
Em 1820, a burguesia mercantil portuguesa colocou fim ao absolutismo em Portugal com a Revolução do Porto. Implantou-se uma monarquia constitucional, o que deu um caráter liberal ao movimento. Mas, ao mesmo tempo, por tratar-se de uma burguesia mercantil que tomava o poder, essa revolução assume uma postura recolonizadora sobre o Brasil. D. João VI retorna para Portugal e seu filho aproxima-se ainda mais da aristocracia rural brasileira, que sentia-se duplamente ameaçada em seus interesses: a intenção recolonizadora de Portugal e as guerras de independência na América Espanhola, responsáveis pela divisão da região em repúblicas.
O Significado Histórico da Independência
A aristocracia rural brasileira encaminhou a independência do Brasil com o cuidado de não afetar seus privilégios, representados pelo latifúndio e escravismo. Dessa forma, a independência foi imposta verticalmente, com a preocupação em manter a unidade nacional e conciliar as divergências existentes dentro da própria elite rural, afastando os setores mais baixos da sociedade representados por escravos e trabalhadores pobres em geral.
Com a volta de D. João VI para Portugal e as exigências para que também o príncipe regente voltasse, a aristocracia rural passa a viver sob um difícil dilema: conter a recolonização e ao mesmo tempo evitar que a ruptura com Portugal assumisse o caráter revolucionário-republicano que marcava a independência da América Espanhola, o que evidentemente ameaçaria seus privilégios.
aMaconariaA maçonaria (reaberta no Rio de Janeiro com a loja maçônica Comércio e Artes) e a imprensa uniram suas forças contra a postura recolonizadora das Cortes.
D. Pedro é sondado para ficar no Brasil, pois sua partida poderia representar o esfacelamento do país. Era preciso ganhar o apoio de D. Pedro, em torno do qual se concretizariam os interesses da aristocracia rural brasileira. Um abaixo assinado de oito mil assinaturas foi levado por José Clemente Pereira (presidente do Senado) a D. Pedro em 9 de janeiro de 1822, solicitando sua permanência no Brasil. Cedendo às pressões, D. Pedro decidiu-se: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico”.
dpedroiÉ claro que D. Pedro decidiu ficar bem menos pelo povo e bem mais pela aristocracia, que o apoiaria como imperador em troca da futura independência não alterar a realidade sócio-econômica colonial. Contudo, o Dia do fico era mais um passo para o rompimento definitivo com Portugal. Graças a homens como José Bonifácio de Andrada e Silva (patriarca da independência), Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e outros, o movimento de independência adquiriu um ritmo surpreendente com o cumpra-se, onde as leis portuguesas seriam obedecidas somente com o aval de D. Pedro, que acabou aceitando o título de Defensor Perpétuo do Brasil (13 de maio de 1822), oferecido pela maçonaria e pelo Senado. Em 3 de junho foi convocada uma Assembléia Geral Constituinte e Legislativa e em primeiro de agosto considerou-se inimigas as tropas portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.
São Paulo vivia um clima de instabilidade para os irmãos Andradas, pois Martim Francisco (vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo) foi forçado a demitir-se, sendo expulso da província. Em Portugal, a reação tornava-se radical, com ameaça de envio de tropas, caso o príncipe não retornasse imediatamente.
José Bonifácio, transmitiu a decisão portuguesa ao príncipe, juntamente com carta sua e de D. Maria Leopoldina, que ficara no Rio de Janeiro como regente. No dia sete de setembro de 1822 D. Pedro que se encontrava às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, após a leitura das cartas que chegaram em suas mãos, bradou: “É tempo… Independência ou morte… Estamos separados de Portugal”.Chegando no Rio de Janeiro (14 de setembro de 1822), D. Pedro foi aclamado Imperador Constitucional do Brasil. Era o início do Império, embora a coroação apenas se realizasse em primeiro de dezembro de 1822.
A independência não marcou nenhuma ruptura com o processo de nossa história colonial. As bases sócio-econômicas (trabalho escravo, monocultura e latifúndio), que representavam a manutenção dos privilégios aristocráticos, permaneceram inalteradas. O “sete de setembro” foi apenas a consolidação de uma ruptura política, que já começara 14 anos atrás, com a abertura dos portos.
fonte:brasilcultura